Intercessor

No momento em que sento-me para escrever esse texto, vejo as notícias sobre o que está acontecendo ao redor do mundo e tudo pode se resume em violência generalizada. Contudo, vejo o atual secretário da ONU, o engenheiro António Gutierres, fazendo seus périplos numa tentativa de encontrar consenso para que a paz se estabeleça. No livro de Gênesis encontramos Abraão intercedendo por Sodoma e Gomorra. Ele dialoga com Deus:

“O Senhor disse então: Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer? Pois que Abraão deve tornar-se uma nação grande e poderosa, e todos os povos da terra serão benditos nele. Eu o escolhi para que ele ordene aos seus filhos e à sua casa depois dele, que guardem os caminhos do Senhor, praticando a justiça e a retidão, para que o Senhor cumpra em seu favor as promessas que lhe fez. O Senhor ajuntou: É imenso o clamor que se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito grande. Eu vou descer para ver se as suas obras correspondem realmente ao clamor que chega até mim; se assim não for, eu o saberei. Os homens partiram, pois, na direção de Sodoma, enquanto Abraão ficou em presença do Senhor. Abraão aproximou-se e disse: Fareis o justo perecer com o ímpio? Talvez haja cinqüenta justos na cidade: fá-los-eis perecer? Não perdoaríeis antes a cidade, em atenção aos cinqüenta justos que nela se poderiam encontrar? Não, vós não poderíeis agir assim, matando o justo com o ímpio, e tratando o justo como ímpio! Longe de vós tal pensamento! Não exerceria o juiz de toda a terra a justiça? O Senhor disse: Se eu encontrar em Sodoma cinqüenta justos, perdoarei a toda a cidade em atenção a eles. Abraão continuou: Não leveis a mal, se ainda ouso falar ao meu Senhor, embora seja eu pó e cinza. Se porventura faltarem cinco aos cinqüenta justos, fareis perecer toda a cidade por causa desses cincos? Não a destruirei, respondeu o Senhor, se nela eu encontrar quarenta e cinco justos. Abraão insistiu ainda e disse: Talvez só haja aí quarenta. Não destruirei a cidade por causa desses quarenta. Abraão disse de novo: Rogo-vos, Senhor, que não vos irriteis se eu insisto ainda! Talvez só se encontrem trinta! Se eu encontrar trinta, disse o Senhor, não o farei. Abraão continuou: Desculpai, se ouso ainda falar ao Senhor: pode ser que só se encontre vinte. Em atenção aos vinte, não a destruirei. Abraão replicou: Que o Senhor não se irrite se falo ainda uma última vez! Que será, se lá forem achados dez? E Deus respondeu: Não a destruirei por causa desses dez. E o Senhor retirou-se, depois de ter falado com Abraão, e este voltou para sua casa” (Gn 18.17-33). 

O que aprendemos com esse texto?

A primeira lição é que, devemos interceder pelas pessoas. É fácil nos queixarmos da violência e da corrupção, mas estamos dispostos a orar pelo povo? Abraão tinha uma dimensão social, ele via as pessoas, e apesar da maldade e crueldade delas, suplicou a Deus por elas. Estamos vendo às pessoas à nossa volta e suplicando por elas?

A segunda lição que aprendemos com esse texto é que as pessoas são valiosas. Note, Abraão conhecia os padrões daquela cidade e sabia que aquele povo desagradava a Deus, mesmo assim, pediu que o Senhor tivesse misericórdia daquela gente. Ele clamou pelos perdidos, reconheceu que todos merecem ser alcançados pela misericórdia de Deus. É preciso amar as pessoas, apesar das suas atitudes e clamar para que a misericórdia de Deus se manifeste a elas.

Por último, é preciso saber silenciar e aceitar a resposta de Deus. Abarão colocou-se de pé e intercedeu, insistiu em sua oração e foi até o limite. Ele não deu ordens, mas dialogou com o Senhor suplicando pelos demais. Entretanto, quando ele percebeu a resposta do Senhor, silenciou, aquietou seu coração e foi para casa. É essencial saber parar e aceitar a resposta de Deus.

Nesse preciso momento, enquanto escrevo esse texto, a guerra acontece lá fora e, eu preciso ter a mesma atitude de António Gutierres e interceder por paz, mas preciso ser como Abraão e clamar Aquele que é o Senhor da história. Entretanto, para que eu possa interceder pelas pessoas eu devo amá-las e vê-las com os olhos de Deus. Tenho sido misericordioso ao ponto de interceder pelas pessoas?