A visão
- Marcos Amazonas Santos
- 24 de jan. de 2024
- 2 min de leitura

Numa sociedade marcada pela transitoriedade, onde as mudanças são constantes, o ser humano perdeu a capacidade contemplativa. Ele olha, mas não vê, porque o seu olhar é um olhar interesseiro e não aquele olhar que vai mais além e consegue ver e admirar o bem de cada coisa. O livro A mística do instante: O tempo e a promessa de José Tolentino de Mendonça, faz-nos caminhar para dentro de nós próprios, para que possamos perceber Deus através dos nossos sentidos, redescobrindo-nos e abrindo-nos ao Criador. Logo no início da leitura do livro fui transportado ao diálogo de Jó com Deus:
“Jó respondeu ao Senhor nestes termos: Sei que podes tudo, que nada te é muito difícil. Quem é que obscurece assim a Providência com discursos ininteligíveis? É por isso que falei, sem compreendê-las, maravilhas que me superam e que não conheço. Escuta-me, deixa-me falar: vou interrogar-te, tu me responderás. Meus ouvidos tinham escutado falar de ti, mas agora meus olhos te viram. É por isso que me retrato, e arrependo-me no pó e na cinza” (Jó 42.1-6). Quero olhar a parte final do texto, mas o que ele me ensina?
Primeiro, aquele que vê Deus reconhece toda a sua falácia. Jó admite que toda a sua argumentação, todos os seus postulados perdem o sentido diante do reconhecimento de quem Deus é. Ele vê, mas a sua visão deixou de ser utilitarista. Diante da realidade de Deus, ele percebe que seus pressupostos são falhos.
Segundo, aquele que vê Deus, vê-se como realmente é. Ou seja, diante da manifestação de Deus, de sua pureza e santidade, a pessoa consegue ver o seu estado, compreende-se impura, pecadora e por isso, na linguagem de Jó, abomina-se, retrata-se, porque percebe que tem uma visão errada de si mesma e que só é possível compreender-se à luz da visão de Deus.
Por último, quem vê Deus e se vê, arrepende-se. Aquele que vê Deus na beleza de sua santidade passa por uma mudança radical. Muda de vida, não deseja continuar sendo o que é. Jó deixou de argumentações e deixou-se tocar por Deus e ser envolvido pelo amor de Deus. No seu arrependimento, iniciou uma nova vida e essa foi longa e próspera.
O que temos visto? Será que nossos olhos estão postos na religião e não em Deus? Recordemos as palavras de João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, e vimos sua glória, a glória que o Filho único recebe do seu Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14). Teus olhos já viram a graça de Deus?



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