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A dor da perda

  • Foto do escritor: Marcos Amazonas Santos
    Marcos Amazonas Santos
  • 11 de jul. de 2024
  • 3 min de leitura

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Conversando com um amigo muito especial tomo conhecimento da morte de uma criança, neto de um amigo em comum, amigo esse que está passando por um momento muito complicado, ante tal perda, o que é natural. Não se espera que avós tenham que enterrar seus netos, que pais vejam seus filhos partirem, algo que infelizmente isso acontece e que, por acontecer, meu querido amigo está em sofrimento.

Diante do acontecido, abro minha Bíblia e reflito na realidade da perda, baseado no texto em que os irmãos de José mentem ao pai, Jacó, afirmando que o seu filho havia morrido. Gênesis narra-nos assim:

“Então Judá disse aos seus irmãos: Que nos aproveita matar nosso irmão e ocultar o seu sangue? Vinde e vendamo-lo aos ismaelitas. Não levantemos nossas mãos contra ele, pois, afinal, é nosso irmão, nossa carne. Seus irmãos concordaram. E, quando passaram os negociantes madianitas, tiraram José da cisterna e venderam-no por vinte moedas de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egito. Rubem voltou à cisterna, e eis que José já não estava ali. Rasgou então suas vestes e voltou para junto dos seus irmãos: O menino desapareceu, disse ele. E eu, para onde irei? Tomaram então a túnica de José, mataram um cabrito e a mergulharam no seu sangue. E mandaram-na levar ao seu pai com esta mensagem: Eis o que encontramos: vê se não é, porventura, a túnica do teu filho. Jacó reconheceu-a e exclamou: É a túnica de meu filho! Uma fera o devorou! José foi estraçalhado! E, rasgando as vestes, cobriu-se de um saco, e chorou o seu filho por muito tempo. Todos os seus filhos e filhas vieram consolá-lo, mas ele não aceitou nenhuma condolência: É chorando, disse ele, que descerei para junto de meu filho na habitação dos mortos. Foi assim que o seu pai o chorou (Gn 37.26-35). 

O que aprendemos com esse texto?


A primeira lição que o texto ensina é que diante da perda de quem amamos somos tomados de profunda tristeza. Jacó rasgou as suas vestes, cobriu-se com um saco e chorou seu filho por muito tempo. Ele lamentou profundamente. Edith Eger afirma que: “A lamentação é o desejo de mudar o passado. É o que sentimos quando não conseguimos admitir nossa impotência diante de algo que já aconteceu e que não podemos mudar. Ou seja, a dor da perda é o preço que se paga por amar e essa dor, nos causa sofrimento e tristeza” (Eger 2021 p. 88).


A segunda lição é que diante da perda de quem amamos não queremos o consolo de ninguém. O texto afirma que foram os filhos e as filhas de Jacó ao seu encontro, numa tentativa de lhe levar consolo, porém em vão. A verdade é que a presença de uns não vai substituir a falta de quem partiu. Solidariedade é importante, estar próximo é crucial, mas devemos compreender que a dor da perda é única e quem a vive terá que aprender a conviver com a mesma. Eger segue afirmando: “É natural continuar chorando e sofrendo por aqueles que perdemos, é saudável se permitir ficar triste e aceitar que a saudade nunca vai passar” (Eger, 2021 p.91). Não há consolo, mas há aprendizado que nos faz aceitar a presença ausente.


Por último, o texto declara que pais que perdem seus filhos seguirão pela vida inconsolados. O texto afirma que Jacó não apenas ficou triste e inconsolável, mas afirma que morrerá triste por não ter o filho a seu lado. Sabemos que não foi isso que aconteceu, mas aqueles que perdem seus filhos jamais são os mesmos. A vida assume outra cor e sim, podem ter momentos de felicidade, mas jamais serão os mesmos.


Diante da dor da perda, de uma fatalidade que vai contra todos os padrões, a tristeza toma conta do ser, a dor é inimaginável. A tristeza invade a vida e não há quem possa consolar. É preciso estar perto e caminhar ao lado, mas respeitando e acolhendo aquele que vive a tristeza de não ter seu filho ou neto mais aqui. É ficar em silêncio e apenas ser solidário.

 
 
 

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